Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
do teu corpo
saem palavras
pensamentos profanos
da simplicidade do teu traço
saem rabiscos
desenhos fotográficos
com a tua alma de grafite
esmagas vidas
no cadafalso da praça
crias personagens
cenários teatrais
vives
sobrevives
entre a criação
e a morte
e em cada risco ensaiado
definhas em pó amargurado
escrevo
letras
palavras
frases
com o sangue que me alimenta
tentativas frustradas de versar
dançam nesta singela folha
onde a criatividade está ausente,
na poesia sou apenas um trolha
decidi escrever, escrever, escrever
sobre o quê, nunca me apercebi
até ao dia, ao momento
em que decidi escrever para ti
e escrevi
letras
palavras
frases
sobre o amor que existe em mim
incenso
(arde lentamente)
golpe traçado
o sangue escorre
marcas
das cordas do violino
na tua pele
aromas
o fumo ofusca
cega
respiração deliciosa
canela . sândalo . jasmim
sufoco
numa mescla de aromas
fumo
um mero aroma
uma memória
um sonho vivido
escorre
a tinta
papel
linha após linha
bocados de mim
fluem no teu olhar
respiro
o coração bate
sinto o teu odor
quando não tenho sono
venho para aqui rascunhar
chiadeira
pop
o copo esvazia-se
l e n t a m e n t e
a língua entorpece
as lágrimas suicidam-se
na biqueira da bota
vómito
bebe mais um copo
e continua a beber
e continua a beber
e continua a beber
porque é bom!
porque gostas!
é bom sentir o cheiro
da erva húmida pela manhã
contemplo um inferno pessoal
o que sou
sou poeta!
escrevedor de palavras
que rimam
e desafinam
captor de emoções
intemporais
e outras mais
conhecedor da alma sofredora
escrevedor de sons
dos maus e dos bons
sou escritor!
de pena
da dor
sou artista!
pintor de sentimentos
abstractos
nem sempre exactos
sou poeta!
sou escritor!
sou artista!
uma espécie de alquimista
faço obras magistrais
crio beleza intemporal
e o que sou?
sou uma pessoa normal
oh! taças, na memória, vividas.
oh! taças de vinho tão cheias.
oh! castas lembranças erguidas
em tabernas de gente tão cheias...
oh! castas antigas... de porte.
oh! castas lembranças vividas.
oh! taças cheias de morte
tão tristes me foram em vida.
oh! turbulentas lembranças
que me trazem essas taças
em tristes desesperanças.
mas oh! taças erguidas em vão
erguidas à vida tão cheias
tão cheias de solidão.
amanhece
o sol brilha
o corvo ri
tudo parece perfeito
sob o céu um jogo emerge
ódio . medo . violência
o corvo esvoaça
a morte brilha nos olhos das crianças
um fogo invisível dilacera o todo
o verbo emerge
a terra morre
onde reina a paz
neste reino de especulações?
onde reina a sinceridade
neste mundo de maldade?
e nesta minha nova convicção
recorro à malícia da razão
e procuro na plenitude do orgasmo
se o antídoto será o sarcasmo
procuro agora seduzir o nirvana
recorrendo às virtudes duma cigana.
procuro na noite
uma silhueta
que se esconde
procuro na noite
o sentido
que me ofusca a mente
procuro na noite
a essência
do meu ser imaginário
escondo da noite
este meu lado sombrio
esta sina traçada
por uma cigana amaldiçoada